Sucesso no Japão, Vasco Debritto vem ao Rio

lançar o CD Visions - Apresentação única no Mistura Fina

dia 13 de abril, domingo

Vasco da Gama descobriu o caminho para as Índias. Quinhentos anos depois, o paulista Vasco Debritto foi em busca do seu caminho e achou o Japão. Mas não estava ele, como o seu antecessor, em busca de especiarias. Ao contrário ele é que as levava consigo em sua viagem. Era a sua música, brasileiríssima, herdeira da melhor tradição Tom Jobim, Noel Rosa, Dorival Caymmi e Chico Buarque, a grande riqueza que ele carregava para o outro lado do mundo, atrás do devido reconhecimento, naquele ano de 1984, quando aceitou o convite do consulado japonês para participar de um programa de extensão cultural.

Perseverante, esse cantor, compositor e arranjador, nativo de Santa Cruz do Rio Pardo, batalhou bastante at é achar seu lugar ao sol (vermelho) do Japão. Depois de muito cantar em bares e casas de espetáculos, de muito gravar em discos alheios e de at é mesmo escrever letras em português para os japoneses que se aventuravam pela música brasileira, foi que ele conseguiu fundar o seu próprio selo (Koala Records), pelo qual lançou dois discos seus: Visions (1998) e Praia dos Corais (2001). Esse primeiro, por sinal, Vasco Debritto est á enfim lançando no Brasil, com uma s érie de shows o do Rio de Janeiro será no dia 13 de abril, no Mistura Fina. Praia, espera ele, terá lançãmento brasileiro logo em seguida.

Nascido em 1952, o músico come çou ainda garoto no violão, sempre de olho na obra de Tom Jobim. O encontro com colegas do quilate de Roberto Menescal e Erlon Chaves, na juventude, reforçaram a cren ça em seu talento para a música popular brasileira. Mas a estr éia nos palcos desse ex-engenheiro civil só foi se dar em 1978, no Museu de Arte Moderna do Rio, a convite do amigo (e parceiro) Sidney Miller. No ano seguinte, Vasco foi iniciado nos segredos da produção fonográfica independente por um dos mestres do assunto o pianista e arranjador Antonio Adolfo e lançou o compacto Um dia. Em 1981, chegou ao primeiro LP, o também independente Um dia a coisa muda, gravado com alguns dos grandes músicos de sua geração: Maurício Maestro (do Boca Livre), Magro (do MPB4), Jaime Alem, Tomaz Improta, entre outros. O ano terminou com um show, na Sala Funarte (RJ), acompanhado pela banda A Barca do Sol.

No entanto, o título do seu disco de estréia não se concretizou: naquele começo de anos 80, o cenário continuava cada vez mais fechado no país para os sambas & bossas que Vasco fazia. "Tava aquela febre de rock nacional e outros bichos", conta o m úsico. Foram então seis meses no Japão (cantando na casa Copacabana, na cidade de Kobe), e mais alguns anos de peregrinação pela Europa at é que as coisas começassem, de fato, a mudar. Em 1994, definitivamente radicado em Tóquio (e casado com a japonesa Yuko), sua carreira começou a se estruturar. Assim, cinco anos depois, Vasco se destacava como o autor do tema oficial do carnaval japonés, que comemorou os 90 anos do início da emigraão para o Brasil. A essa altura, Visions, disco gravado no Japão com músicos estrangeiros e um ilustre brasileiro o violonista Romero Lubambo, na faixa Do amor tornara-se um sucesso em termos de música brasileira no país, com mais de 3 mil cias vendidas e indicaçes para prémios. Entre os destaques do CD, que está sendo distribuÉdo nacionalmente pela Trattore, temos o estilizado bolero que é a faixa-título, a latina Águas, a delicada balada buarquiana A bailarina, o samba-funk Rio de Janeiros ("Fiz até promessa a São Sebastião/ Pra voltar depressa abrir meu coração") e a instrumental com tinturas orientais Somewhere in Tokyo.

Praia dos corais (que terá uma pr évia nos shows), por sua vez, foi gravado no Rio e Nova York e contou com as participaçes do baixista americano, fera do jazz e apreciador da MPB Ron Carter; de Romero Lubambo e de outros músicos brasileiros de peso como Paulo Braga e Robertinho Silva (percussão), Pantico Rocha (bateria), Fernando Merlino (piano) e Marcelo Mariano (baixo). É mais um bom exemplar dessa música tão singular de Vasco Debritto, que chega aos ouvidos feito uma lufada de ar fresco, com cheiro de mar, num dia de calor implacável, cheio de preguiça.

Em seu show no Mistura Fina, Vasco (que além de cantar também toca violão) se apresenta com o acompanhamento de Fernando Merlino (teclados), Robertinho Silva (bateria), Luiz Alves (baixo), Fernando Carvalho (guitarra), Zé Canuto (sax e flauta), Sanny Alves e Letícia Carvalho (vocais). É a rara chance para conferir essa música que o Brasil deixou passar num momento de confusão, os japoneses recolheram e preservaram, e agora o país, em tempos musicalmente mais felizes, redescobre com redobrada alegria.

Silvio Essinger (jornalista e crítico musical)

Show Vasco Debritto - lançamento do CD Visions